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VIAGENS

“As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do

próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.” Montesquieu

 

A palavra turismo vem de “grand tour” que era como se denominava a viagem de estudos que os alunos das universidades de Oxford e Cambridge faziam como requisito para conclusão de curso. A viagem durava de seis meses a dois anos, percorria grande parte do mundo conhecido, era feita na companhia de um tutor e bancada pela rainha da Inglaterra.

Mas o turismo como o conhecemos é bem recente. Durante milênios, viajar foi uma obrigação que só era cumprida por devoção, necessidade de fugir ou em busca de sobrevivência.

Os romanos, buscando melhorar as comunicações entre as suas distantes províncias construíram milhares de quilômetros de estradas e outras tantas pontes. As melhorais, contudo, não beneficiaram todo mundo, já que para viajar era necessário possuir uma espécie de passaporte e, com o fim do império, no século 5, a falta de manutenção e as depredações praticamente as destruíram.

Até o fim do século 18 não havia estradas, nem hotéis, nem restaurantes. A insegurança, os desconfortos, a imprevisibilidade em relação ao tempo a ser despendido, a falta de comunicação e a falta de conhecimento em relação ao que se ia encontrar, restringiam os caminhos aos militares, devotos, diplomatas, e uns poucos estudantes e aventureiros.

Verdade que já no século 5 a.C. os gregos, a cada quatro anos, viajavam aos milhares até Olímpia para ver os jogos em homenagem a Zeus. Mas isso só era possível porque a Grécia, apesar de dividida em diversas cidades-Estado tinha língua e moedas comuns. Só para constar, o turismo predatório, aquela mania infame de rabiscar o nome nos monumentos históricos, nasceu nessa época.

A viagem pelo prazer de viajar começou com a revolução industrial. Com trens e barcos a vapor, as distancias encurtaram e as viagens que duravam semanas passaram a demorar dias. O capitalismo trouxe, também, a noção do lazer, que é ocupar o tempo livre com atividades, diferentemente do ócio, que é o fazer nada contemplativo, muito valorizado no oriente.

Mas mesmo assim as viagens eram caras e a solução foi encontrada por acaso por um pastor inglês, Thomas Cook, que em 1841 alugou um trem para levar 570 fiéis a uma palestra numa cidade vizinha à sua. A experiência foi tão bem sucedida que ele a repetiu, aperfeiçoou, e, no final do século dezenove, sua agência de viagens  tinha 1.700 empregados espalhados por diversos países.

Atualmente só precisamos de um bom cartão e saber para onde queremos ir. Podemos viajar só ou em grupos; seguindo um roteiro preestabelecido ou de acordo com a vontade do momento; podemos ir de carro, moto, trem, navio ou avião, ou caminhando; podemos nos demorar ou atender às urgências do cansaço e da saudade, ou da prudência que avisa que o dinheiro está acabando. E podemos dispensar a agência de viagem e cuidar pessoalmente dos roteiros e hospedagens. Podemos ir na alta temporada, pra encontrar um monte de gente, ou fora dela e descobrir com calma as belezas e as histórias por trás da beleza.

Existe um tipo de conhecimento, de cultura, que só se adquire viajando. E existem certas viagens que só se aproveita plenamente quando se tem alguma cultura sobre o país que se está visitando. Dizem que o natal não é nada comparado à véspera de natal. Com viagens também é assim: planejar, ler sobre a história, a língua, os costumes dos lugares que visitaremos é tão bom quanto viajar. Aprender algumas palavras do idioma também ajuda, demonstra ao povo visitado que nos importamos que levamos nosso apreço além de dólares.

Quando estou em outro país procuro andar de ônibus, caminhar, misturar-me, sentir o cheiro, provar dos temperos, ouvir os sons, imaginar como seria morar lá. Andei de elefante na Índia, me encharquei nas ruas de Londres e ainda hoje, contra os argumentos dos meus amigos que assistiram, continuo afirmando que aquele conjunto de movimentos que cometi em Buenos Aires era dançar tango.

Sempre encontro almas caridosas para me guiar e até convites para almoço e janta já descolei. Gosto de pensar que meu interesse genuíno me tira da manada em disparada que falta alto, fotografa sem saber bem o que e vai embora intocada, porque o facebook precisa ser atualizado.

Viajar dá uma noção de contexto, nos devolve a humildade na medida em que percebemos que fazemos parte de uma paleta enorme de cores, nos mostra que aquilo que para nós é bizarro, em outros pais é normal e, de repente, nos damos conta das nossas próprias bizarrices.

Voltamos cansados, estropiados e jurando nunca mais. E, logo, logo, nossos genes que nos tiraram da África dezenas de milhares de anos atrás estarão clamando por novos horizontes, novas experiências, nem que seja uma caminhada a sós pelo interior para poder imaginar outros mundos. Faço muito isso. 


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