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DINHEIRO

Nada é bastante para quem considera

pouco o que é suficiente – Confúcio

 

Por que Osama Bin Laden, apesar de todo o seu ódio pelos valores ocidentais, adorava dólares?

Porque o dinheiro é o maior conquistador de todos os tempos. Ele é dotado de extrema tolerância e capacidade de adaptação, não discrimina com base em cor, raça, peso, idade, religião, orientação sexual,... Leis, códigos culturais, crenças religiosas, hábitos sociais, tudo é transposto pelo dinheiro. As pessoas podem falar línguas mutuamente incompreensíveis, obedecer a diferentes sistemas de governo, professar fé diferente, mas todos acreditam e querem sempre dinheiro. E é essa crença inabalável que permite que o dinheiro seja o meio universal de trocas. Com dinheiro pode-se converter quase tudo em praticamente qualquer coisa, até sexo em salvação, como faziam as prostitutas da idade média, que compravam indultos da Igreja Católica com o dinheiro que ganhavam dos clientes ricos. Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro já dizia Nelson Rodrigues.

É tal o poder do dinheiro que ele não necessita ser bonito, nem cheiroso, nem de nenhuma estratégia de marketing. Nunca vi nenhuma cédula que estampasse mulher pelada para se promover, pelo contrário, tenho visto velhas sérias, um ou outro animal, alguns senhores a cavalo... O dinheiro se garante. Também nunca vi ninguém devolver uma cédula porque está amassada ou rasgada. O dinheiro não tem idade.

O dinheiro é, também, imensamente prático: com ele pode-se armazenar e transportar riquezas com conforto e segurança. É o dinheiro que permite que um fazendeiro do Sul venda suas terras e benfeitorias e desembarque no Norte e, com não mais do que uma assinatura adquira propriedades de valor equivalente.

 Foi exatamente a busca da praticidade que levou à invenção do dinheiro.

A primeira forma de dinheiro conhecida na história foi a cevada, que era medida em litros e apareceu na Suméria por volta de 3.000 a.C. Também na suméria e no mesmo período desenvolveu-se a escrita. Gestão financeira e contabilidade são necessidades antigas e interdependentes, como se vê.

Na Bíblia, no Antigo Testamento, há menções a outra espécie de dinheiro, o siclo de prata. O siclo não era uma moeda, e sim uma medida. Um siclo equivalia a 8,33 gramas de prata e, ao contrário da cevada, não tinha valor inerente. Não se podia comer prata, nem fabricar arados ou espadas com ela, seu valor estava ligado à cultura, prata podia ser transformada em joias ou coroas e outros símbolos de status.

As primeiras moedas da história foram criadas por volta de 640 a.C. na Lídia, região atualmente localizada na Turquia. Essas moedas tinham duas características que, até hoje, asseguram a circulação do dinheiro: traziam gravado quanto valia cada moeda e quem a garantia, no caso o rei Aliates. Quase todas as moedas em uso hoje descendem das moedas lídias. Vem dessa época também o cuidado para que a confiança não seja abalada por falsificações. Falsificar dinheiro sempre foi considerado um crime muito mais sério do que outros tipos de fraude. Falsificar dinheiro é um ato de subversão contra o poder, é afirmar que a estampa na moeda ou assinatura na cédula não são confiáveis. O termo jurídico é lesa-majestade e era punido com morte em praça pública sob tortura.

Considerando ou ignorando seus aspectos práticos que permitiram que milhões de desconhecidos cooperassem entre si e ampliassem as redes de comércio de uma forma nuca imaginada filósofos, pensadores e profetas têm demonizado o dinheiro e o consideram a raiz de todos os males há milhares de anos. “Dinheiro não traz felicidade” já se disse e escreveu vezes sem conta. “Não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris”, rebatem outros.

A verdade é que infelicidade e maldade independem de classe social. Os ricos podem estar mais propensos à indiferença e a prepotência porque dinheiro está associado a poder, e o poder corrompe por permitir a convicção de superioridade, e junto com a riqueza vem a liberdade de poder escolher.

Mas dinheiro e poder só sobem à cabeça quando encontram o lugar vazio.

Para aquele rico que despendeu todo seu tempo e energia juntando posses, abrindo mão das amizades, da dignidade e até da saúde para mantê-las, e descobre que, por maiores que sejam, elas são tudo o que lhe resta, caberia o axioma “era tão pobre que só tinha dinheiro”.

No entanto, assim como pobres, há muitos ricos generosos e felizes. Mas conforta os ressentidos pensar que os ricos sofrem ou são solitários.

O que se pode questionar é como a riqueza é construída e sob quais alicerces ela é erguida. E aí também vale ressaltar que a exploração independe de sistema de governo. Já se disse que sob o capitalismo o homem explora o homem e sob o socialismo o reverso acontece.

Quanto a se o dinheiro traz felicidade a resposta é sim e não. Pesquisas asseguram que para as pessoas da base da pirâmide econômica, mais dinheiro significa mais felicidade. Mas a partir de um determinado ponto ele precisa estar associado a fatores sociais, éticos e espirituais para funcionar. Família, comunidade e uma vida cheia de sentido têm mais impacto na nossa felicidade do que dinheiro ou poder.

Um dos lados obscuros do dinheiro é que ele gera confiança entre estranhos, mas essa confiança não gera melhores relações humanas já que não confiamos no estranho, mas na moeda que ele possui. Acabadas as suas moedas, acaba nossa confiança. E as comunidades humanas e as famílias sempre se basearam em valores inestimáveis, como honra, lealdade, moral e amor. Se a melhoria gigantesca das nossas condições materiais vem ao custo do colapso da família e da comunidade então nosso dinheirinho – assim, no diminutivo mesmo -, está custando muito caro.


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